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Mais de 80% dos profissionais de saúde estão exaustos diante da pandemia, aponta pesquisa da FGV

Levantamento também mostra que quase 70% deles não se sentem preparados para lidar com os infectados; maior complexidade dos casos e falta de treinamento são apontados como motivos


BRASÍLIA — A exaustão física e mental em meio ao colapso dos hospitais representa o dia a dia dos profissionais de saúde da linha de frente contra a Covid-19 no Brasil. Depois de um ano de pandemia, oito em cada dez (80,2%) sentem impactos negativos na saúde física e mental, sendo que 69,9% não se sentem preparados para cuidar de pacientes, que agora são mais numerosos e, muitas vezes, têm casos com maior gravidade.

Entre os motivos citados, estão a imprevisibilidade da doença, a falta de treinamento e de recursos e o medo de contrair e de transmitir a Covid-19. Profissionais da atenção básica também têm sido deslocados para alas de cuidados intensivos, dada a falta de especialistas na área. Além disso, só 44,5% dos entrevistados receberam equipamentos de proteção individual (EPIs) de forma contínua ao longo da pandemia.


Os dados são do relatório do Núcleo de Estudos da Burocracia (NEB) da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (EAESP) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), junto à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e à Rede Covid-19 Humanidades, e obtido pelo GLOBO. Ao todo, 1.829 profissionais de saúde de todo o país responderam à pesquisa, realizada de 1º a 20 de março. Os resultados deram origem à nota técnica “A pandemia de Covid-19 e os(as) profissionais da saúde pública no Brasil — 4ª fase”.

— A minha sensação é que a gente está andando em círculos, porque os resultados estão muito similares aos da primeira pesquisa. (...) A gente tá olhando para profissionais que estão trabalhando há 12 meses sem parar e sem perspectivas de melhora — declara a professora de Administração Pública da FGV e uma das coordenadoras da pesquisa, Gabriela Lotta.


Segundo a pesquisa, o melhor indicador apresentado é o da vacinação: 86,8% dos entrevistados já receberam pelo menos a primeira dose. O acesso a EPIs aumentou, mas a taxa de testagem caiu. O esgotamento já se reflete no trabalho de médicos, enfermeiros, agentes comunitários de saúde (ACS) e agentes de combate a endemias (ACE), dentistas, psicólogos e farmacêuticos

Entre as consequências do trabalho durante a pandemia, já se vê o aumento da mortalidade de profissionais de saúde, sobretudo os enfermagem. Segundo Lotta, também se espera um aumento nos casos de Síndrome de Burnout, de depressão e de Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), uma vez que esses trabalhadores “não estão tirando férias e nem licença, e sem perspectiva de ter”. Passada a pandemia, eles é que serão os pacientes.

— A gente está expondo esses profissionais não só questões físicas, mas também morais e emocionais, como escolher quem vive e quem morre, quem vai ou não para a UTI. A nossa expectativa é que, a curto e médio prazo, isso vai se materializar em muitos afastamentos no trabalho — afirma a professora e pesquisadora.

Eles se somarão aos pacientes que tiveram sequelas da Covid-19 e aos que viram consultas, exames e cirurgias serem adiados durante a pandemia, seja pelo remanejamento de recursos para a Covid-19, seja pelo medo de ir a uma unidade de saúde para procedimentos eletivos. Nessa perspectiva, Lotta alerta para a necessidade de pensar no remanejamento dos profissionais e em como formar novos, diante do aumento da demanda para os que trabalham em terapia intensiva, por exemplo.

— Os profissionais estão vivendo o contexto de guerra. São muito parecidas as exigências emocionais e causam impactos de saúde mental a longo prazo — continua.

Há impactos previsíveis à saúde desses trabalhadores e outros que ainda não foram vistos, já que a pandemia completou um ano no mês passado. Entre as medidas emergenciais que podem minimizar os impactos, estão a compra de EPIs e de máscaras PFF2, mais treinamento, testagem em massa e apoio psicológico e moral.


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Fonte: @O Globo

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